(do livro 50 histórias para aquecer o coração)
“Se você for paciente em um
momento de raiva, irá escapar de cem anos de arrependimento.”
(Provérbio chinês).
Em 1974, voltando da escola
para casa no último dia antes das férias de Natal, eu pensava animadamente sobre o feriado vindouro, como só
os meninos de dez anos conseguem sonhar. A algumas portas de distância
de minha casa em Coral Gables, Flórida, um homem se aproximou de mim e
perguntou se eu poderia ajudá-lo com a decoração de uma festa que ele estava dando para meu pai. Achando que era amigo de
meu pai, concordei em ir com ele. O
que eu não sabia era que este homem tinha ressentimentos contra a minha família.
Trabalhara como enfermeiro para um parente idoso, mas fora despedido por causada
bebida. Após eu ter concordado em
acompanhá-lo, ele dirigiu seu trailer até uma área isolada ao norte de Miami, onde parou no
acostamento da estrada e me golpeou várias vezes no peito com um furador de
gelo. Então dirigiu para oeste, até Florida Everglades, levou-me até o meio dos arbustos, deu um tiro em
minha cabeça e me deixou lá para morrer.
Felizmente a bala havia passado
por trás de meus olhos e saído pela minha têmpora esquerda sem causar nenhum dano cerebral. Quando recobrei a consciência,
seis dias depois, não tinha noção de
que havia sido atingido por um tiro. Fiquei sentado no acostamento e fui encontrado por um homem que
parou para me ajudar. Duas semanas depois descrevi a pessoa que me
atacara para o desenhista da polícia e meu tio reconheceu o retrato resultante
como o homem que me atacara. Meu agressor
foi preso, junto com outros suspeitos. Entretanto, o trauma e o estresse haviam cobrado seu preço e não pude identificá-lo.
Infelizmente a polícia não conseguiu recolher nenhuma prova física que o
ligasse ao crime. Portanto, ele nunca foi acusado.
O ataque me deixou cego do
olho esquerdo, mas não causou nenhum outro dano e, com o amor e o apoio de
minha família e amigos, voltei para a escola e dei continuidade à minha vida. Durante os três anos seguintes, vivi com uma extrema
ansiedade. A maioria das noites eu acordava
assustado, imaginando que havia escutado alguém entrando pela porta dos fundos
e acabava dormindo no pé da cama de meus pais. Então, quando eu estava com
treze anos, tudo isso mudou. Uma noite, durante um estudo da Bíblia com o grupo
jovem da igreja, percebi que a providência e o amor de Deus, tendo
miraculosamente me mantido vivo, eram a base para a segurança de minha vida. Em
Suas mãos eu podia viver sem medo ou rancor. E então eu o
fiz. Terminei os estudos, recebendo o diploma de
mestrado em Divindade. Casei-me com minha maravilhosa esposa, Leslie. Temos
duas filhinhas maravilhosas, Amanda e Melodee.
Em setembro de 1996, o major
Charles Scherer, do Departamento de Polícia de Coral Gables, que trabalhara na
investigação original de meu caso, telefonou-me para
me contar que o agressor, hoje com setenta e sete anos de idade, finalmente confessara. Cego por causa do glaucoma, com a saúde
abalada, sem família ou amigos, ele estava em um asilo no norte de Miami Beach.
Fui visitá-lo. A primeira vez em que fui visitá-lo ele se desculpou pelo que
havia feito a mim e eu lhe disse que o havia
perdoado. Visitei-o muitas vezes depois disso, apresentando-o
à minha esposa e filhas, oferecendo-lhe esperança e uma certa sensação de família
nos dias anteriores à sua morte. Ele sempre ficava feliz quando eu aparecia.
Acredito que nossa amizade tenha diminuído sua solidão e era um grande alívio
para ele, após vinte e dois anos de arrependimento. Sei que o mundo pode me ver como a vítima de uma horrível
tragédia, mas eu me considero a
"vítima" de muitos milagres. O fato de eu estar vivo e não ter nenhuma
deficiência mental desafia as probabilidades. Tenho uma esposa amorosa e uma família linda. Recebi
tantas dádivas quanto qualquer outra pessoa - e
amplas oportunidades. Fui abençoado de várias maneiras. E enquanto muitas
pessoas não conseguem entender como pude perdoá-lo, do meu ponto de vista eu
não poderia deixar de fazê-lo. Se eu tivesse escolhido odiá-lo todos esses anos,
ou passar a vida procurando vingança, então eu não seria o homem que sou hoje -
o homem que minha mulher e filhas amam.
(Chris Carrier, entregue
por Katy McNamara)