... gosto de escrever frases e deixá-las soltas por aí. Gosto de fazer as pessoas pensarem que é para alguém ou por alguém...
porque sinceramente, eu sou diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente...
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
A solidão amiga
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.
Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, “parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis“. A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: “Como se comporta a Sua Solidão?“ Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.
Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.“ Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.
Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim:
“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!“
Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno é o outro.“ Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:
“Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.
Ali as palavras e os tempos
poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar.“
E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, “certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa – garrafa, prato, facão – era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia.“
Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita.“ É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.
E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:
“...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília...“
Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.
O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...
A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.
Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Sabe do que eu sinto saudades?
Ao fechar os olhos sinto cada onda indo e vindo, trazendo lembranças de momentos que jamais poderei esquecer, porque foram intensos demais e já estão tatuados na minha memória e na minha alma.
Essas lembranças me fazem sorrir apesar da saudade que vem acompanhada.
Doces lembranças não devem ser esquecidas em um fundo de gaveta, devem ser revistas sempre que possível, trazendo a brisa refrescante de algo que já passou, mas que parece tão presente...
quanto tempo dure, sei que ele passa.
Os protagonistas e antagonistas desta história também
perderão sua importância, serão como bonequinhos esquecidos na estante cobertos
pela poeira do tempo.
O fato, o ato, o retrato, tudo ficará para trás. Vidas serão
mudadas, outras continuarão como estão.
Novas conquistas, novos desafios, causas perdidas, conversas
jogadas fora. No final tudo perderá ou ganhará um sentido.
E a todas estas coisas somente um remédio, o tempo...
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Quando...
Quanto vires as grandes tempestades não tenha medo, pior são
os nunca a viram passar.
Quando te sentires abandonado pelos amigos não chore, pior
são os que nunca tiveram um.
Quando te sentires cansado em meio ao caos não desanime, pior
são os que nada fazem e não tem do que se cansar.
Quanto vierem os dias de solidão não sofra, pior é aquele que
se sente só em muito a uma multidão.
Quando palavras contrárias vierem te confrontar não desista,
pior é não ter pra quem contar os sonhos.
Quando tudo parecer improvável não pare, pior é não ter a
ousadia para lutar e conquistar o impossível.
Quando as noites parecerem muito longas não se apavore, é em
meio à escuridão que as estrelas brilham mais.
Quando o sol parecer escaldante demais não esmoreça, é em
meio ao deserto que um simples copo de água pode ser a maior felicidade.
Quando tudo e todos parecerem longe não se aflija, olhe para
dentro de si e sinta a força interior que há dentro de você.
Quando os seus sonhos parecerem altos demais continue sonhando,
pois é a esperança de que eles um dia se realizem que te leva a cada dia ao
encontro do seu destino...
Nando Reis e Os Infernais - Você pediu e eu já vou daqui
♫ E quando um dia isso acontecer
De você querer voltar pra mim
O meu perdão eu vou saber lhe dar
E jamais eu direi, que um dia
você conseguiu me magoar...♫
quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Terminado o filme, a legenda começou a subir. Enquanto cada letrinha aparecia na tela, lágrimas rolavam dos seus olhos acompanhando o compasso da música final.
Apesar das falhas que ela sempre encontrava em cada comédia romântica que assistia, em cada romance, em cada filme de ação, o final parecia sempre previsível. Tudo se encaixava na hora exata. Era isso que a perturbava, porque na vida real não era assim.
Os filmes, as novelas, os seriados sempre deixavam os personagens na dúvida, porque eles tinham duas opções ou até mais às vezes, mas a realidade não era assim, na vida dela não era assim. Ela não tinha opção, não tinha escolha. Tudo o que restava a ela era aceitar a situação, o momento que estava passando.
E aí ela se perguntava: para que servem os contos de fadas, as histórias de amor eterno, os príncipes encantados, as princesas, a gata borralheira?... Senão para machucar as pessoas reais, as pessoas sofridas e solitárias que existiam nos quatro cantos do mundo?
Esses contos não embalam sonhos, eles na verdade mostravam a triste realidade de quem não sabe se um dia será feliz. Essas lendas mistificavam ainda mais aquela tão sonhada e desejada palavra chamada “felicidade”.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
(Re)encontro

Ela sempre foi assim, não se importava com a opinião alheia, quando queria algo ia lá e fazia.
Sem pensar duas vezes e com o coração a sair pela boca fez o convite. Como ela esperava, ele aceitou. Combinaram o horário, aonde iriam acertariam depois.
As horas foram generosas e passaram logo, sua cabeça não parava de pensar como iria agir. Faziam
alguns meses que não se viam, que não se tocavam, sentia-se como uma adolescente, essa sensação de adrenalina a empolgava.
Era uma mulher decidida e envolvente, sabia como ofender, mas também sabia agradar. Vaidoso como ele era, bastaram as palavras certas para que o seu ego inflasse, para que ele se sentisse dono dela outra vez. Por dentro ela ria, gostava desse efeito que causava nele. Afinal de contas ela sabia exatamente quem estava no controle da situação. Ah! Os homens... Será que nunca perceberiam que ao lado da astúcia de uma mulher nunca passariam de meros garotos?
Ela arrumou-se, colocou um vestido que caia bem em seu corpo e combinava com a temperatura daquela noite quente, de lua gigante. Terminado os últimos detalhes, era hora de ligar e dizer que estava pronta. Começou a suar, seu coração palpitava. De novo aquela sensação de ser ainda uma inexperiente adolescente. Repassou mais uma vez o que fazer.
Ele chegou. Sorriram um sorriso tímido, ambos pareciam constrangidos.
Chegando ao local combinado a temperatura parecia subir cada vez mais, tanto fora quanto dentro dela. Era hora de (re)viver tudo o que ela tanto desejara.
Esqueceram a timidez e entregaram-se um ao outro, tudo ali era beijo, pele, calor, suor, saudade. O tempo passou rápido, parecia querer roubar-lhe aqueles instantes. Mas eles aproveitaram-se, sorriram, conversaram. Chegado o momento de ir embora, vestiram-se, era hora de voltar à realidade.
Na despedida beijaram-se. Sem deixar nada combinado, sem saber se haveria outro encontro,
outra chance, nada. Ao vê-lo partir ela pensou: O pouco que temos é tudo que nos resta.
Dormiu feliz, amanhã seria outro dia...





