"E eu não espero que me vejam por dentro, desejo apenas que não me julguem pelo que veem por fora." (Monalisa Macedo)

















domingo, 5 de janeiro de 2020

"O que a memória ama, fica eterno..."



'Quando eu era pequena, não entendia o choro solto de minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro...

O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. 

Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender.

O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.

É que a memória é contrária ao tempo. 

Nós temos pressa, mas é preciso aprender que a memória obedece ao próprio compasso e traz de volta o que realmente importou, eternizando momentos.

Crianças têm o tempo a seu favor e a memória muito recente.

Para elas, um filme é só uma animação; uma música, só uma melodia. 

Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade. 

Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente se despede. 

Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis.

Nossos filhos são nossas crianças, os amigos estão perto, nossos pais ainda são nossos heróis.

A frase do título é de Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno..”. 

E o que eu acredito é que quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente.

Quando nos damos conta, nossos baús secretos - porque a memória é dada a segredos - estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo... 

Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer; ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você... - foi a trilha sonora de um amor, embalou os sonhos de uma época ou selou uma amizade verdadeira e mesmo que os anos tenham se passado, alguma parte de você se perde no tempo e lembra alguém, um momento ou uma história. 

Ao reencontrar amigos da juventude nos esquecemos que somos adultos e voltamos a nos comportar como meninos cheios de inocência, amor e coragem.

Do mesmo modo, perto de nossos pais seremos sempre “as crianças”, não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. 

Para eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das histórias contadas ao cair da noite, serão sempre recentes pois têm vocação de eternidade.

Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas.

Dizem que o tempo cura tudo, mas talvez ele só tire a dor do centro das atenções. 

Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na ferida.

Mas aquilo que amamos tem disposição para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando.

Somos a soma de nossos afetos e aquilo que nos tocou pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: 

Uma canção cala nossos sentidos...

Um aroma nos paralisa lembrando alguém...

Um sabor nos remete à infância... 

Assim também permanecemos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex amores, amigos, irmãos. 

E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram".

🌿🌺Fabíola Simões

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