Raiva por receber coisas das quais eu não fui e não sou capaz de cuidar, raiva por pensar em tudo o que tem me acontecido nos últimos meses, raiva de mim, de mim e de mim, porque no fundo só eu posso mudar alguma coisa.
A culpa é por não ser mais paciente, mais tolerante, mais doce, mais serena. A culpa é por ter esse gênio incompatível com “qualquer pessoa”. A culpa é por não conseguir dizer o que sinto na hora que sinto, é por não ser capaz de expressar toda a dor que há em mim, fazendo com isso, parecer que sou insensível e contrária a qualquer sentimento bom, passível a todos os mortais.
Escrevendo eu digo tudo, eu me abro por inteira, deixo as letras tomarem forma, escorrerem no papel tirando a sua palidez, traçando o percurso do som que não sai da minha boca, dos gestos que a minha inércia não permite. É essa necessidade de escrever que me faz retomar o fôlego, que não me deixa morrer sufocada com tantas coisas não ditas, com tantas omissões, com tantos sentimentos não revelados. É essa necessidade que me resgata dos meus medos, do sombrio dos meus pesadelos e da fraqueza da minha voz... A voz que calo é a mesma que grita e atormenta dentro de mim, que me culpa e me condena, por tudo o que não fui e por tudo o que eu ainda não sou.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
(Osvaldo Montenegro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vou amar o seu comentário e guardá-lo com carinho!