
Não queria ser roubada de novo. Arrumava tudo com cuidado,
juntava aos poucos suas coisinhas, não tinha muito, mas algum valor mantinha
consigo. E aí, despercebida ou negligente talvez, era tomada de assalto. Ele entrava
pela porta ou pelas brechas que ela deixava e a invadia, fazia-se acreditar que
dessa vez seria diferente. Dizia que ficaria. Que precisava dela, que sem ela
não poderia viver e tantas outras promessas em vão.
Outra vez ela cedia. Fechava os olhos e deixava-se levar
pelas palavras, pelos gestos, pela mão leve, pela boca quente, pelo cheiro e
pelos olhos daquele que a trairia mais uma vez. Quem poderia julgá-la? Somente sua
consciência quando ele partisse deixando-a em prantos e desprovida, levando
embora tudo que tinha conseguido juntar com tanto esforço.
Quem olhasse poderia pensar: - Que ingênua! Mas ingênua ela
não era, nunca fora. No fundo acho que ela até gostava. Era um misto de prazer
e aventura que alimentava dentro de si e que ninguém poderia entender. Nem
mesmo ela. Nem mesmo ele. Chegava a perguntar-se até onde seria capaz de ir,
até quando se coloraria a prova...
Olhou em suas mãos as chaves e os cadeados, as poucas armas
que dispunha para fechar de uma vez por todas sua casa, seu portão e seu mundo.
Era agora e não amanhã, nem depois, nem nunca, era agora. Ainda dava tempo. Podia
sentir no vento o prenúncio de que algo estava para acontecer, essa sensação
ela já conhecia. O cheiro dele parecia estar no ar chegando de leve, mas em
breve tomaria conta de tudo, inclusive de sua mente.
Decidida seguiu em frente, trancou-se. Não adiantava bater,
ela não iria abrir!
Olá Milka,
ResponderExcluirCoração da gente tem disto: por vezes, labirintos; por vezes, janelas...
Abç!