"E eu não espero que me vejam por dentro, desejo apenas que não me julguem pelo que veem por fora." (Monalisa Macedo)

















quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A porta fechou

Ela pensou uma, duas, três vezes. Estava em suas mãos chaves, cadeados, controle do alarme, armadilhas e arames farpados para trancar tudo. Sim, ela decidira trancar todas as portas e frestas que possibilitassem outro saque. Já havia passado por isso tantas vezes e quase sempre da mesma forma, pelo mesmo malfeitor. Tinha consigo a culpa de saber que ela era a maior responsável por aquilo, por não ter se protegido antes e por muitas vezes facilitar tais ações, deixando as portas abertas.

Não queria ser roubada de novo. Arrumava tudo com cuidado, juntava aos poucos suas coisinhas, não tinha muito, mas algum valor mantinha consigo. E aí, despercebida ou negligente talvez, era tomada de assalto. Ele entrava pela porta ou pelas brechas que ela deixava e a invadia, fazia-se acreditar que dessa vez seria diferente. Dizia que ficaria. Que precisava dela, que sem ela não poderia viver e tantas outras promessas em vão.
Outra vez ela cedia. Fechava os olhos e deixava-se levar pelas palavras, pelos gestos, pela mão leve, pela boca quente, pelo cheiro e pelos olhos daquele que a trairia mais uma vez. Quem poderia julgá-la? Somente sua consciência quando ele partisse deixando-a em prantos e desprovida, levando embora tudo que tinha conseguido juntar com tanto esforço.

Quem olhasse poderia pensar: - Que ingênua! Mas ingênua ela não era, nunca fora. No fundo acho que ela até gostava. Era um misto de prazer e aventura que alimentava dentro de si e que ninguém poderia entender. Nem mesmo ela. Nem mesmo ele. Chegava a perguntar-se até onde seria capaz de ir, até quando se coloraria a prova...
Olhou em suas mãos as chaves e os cadeados, as poucas armas que dispunha para fechar de uma vez por todas sua casa, seu portão e seu mundo. Era agora e não amanhã, nem depois, nem nunca, era agora. Ainda dava tempo. Podia sentir no vento o prenúncio de que algo estava para acontecer, essa sensação ela já conhecia. O cheiro dele parecia estar no ar chegando de leve, mas em breve tomaria conta de tudo, inclusive de sua mente.

Decidida seguiu em frente, trancou-se. Não adiantava bater, ela não iria abrir!

Um comentário:

  1. Olá Milka,

    Coração da gente tem disto: por vezes, labirintos; por vezes, janelas...

    Abç!

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